Hidrogênio Verde: oportunidades de negócios para o Brasil

O hidrogênio verde representa novas oportunidades de negócios para o Brasil. Essa foi uma das conclusões dos especialistas que participaram do Webinar BW Talks Transformação Energética – Hidrogênio, promovido quarta-feira, dia 17 de junho, e transmitido pelo YouTube. “Nosso país é riquíssimo em fontes renováveis de energia, o que o capacita a produzir hidrogênio verde em grande escala”, ressaltou a especialista em tecnologias de hidrogênio e células a combustível Monica Saraiva Panik, que é a curadora do Núcleo Temático Transformação Energética – Hidrogênio da BW Expo, Summit e Digital 2020. O hidrogênio verde tem sido considerado em políticas públicas de países da União Europeia, da América do Norte e da Ásia como a solução para a descarbonização da economia, uma vez que ele pode atuar em diversos setores: integrado às fontes renováveis para armazenamento de energia que seria desperdiçada, na indústria, no setor residencial e comercial, na mobilidade urbana, entre outros.

A Alemanha, por exemplo, publicou sua política pública em hidrogênio, cujos investimentos serão da ordem de € 7 bilhões. O plano prevê a introdução em massa de tecnologias do hidrogênio. Contudo, como o país só conseguirá produzir 11% do hidrogênio necessário para sua aplicação, já afirmou que irá importar o restante. “É uma grande oportunidade para o Brasil, que tem a Alemanha como uma grande parceira comercial”, avaliou Daniel Gabriel Lopes, sócio e diretor Executivo da Hytron e coordenador da Mentoria em Tecnologia e Inovação para Mobilidade com Hidrogênio da SAE Brasil.

Sectormapping Hidrogênio

Mas, para isso acontecer, o país terá que vencer algumas barreiras. Uma delas, segundo Lopes, é a do conhecimento sobre as oportunidades do hidrogênio em diversas áreas, como no agronegócio, que produz etanol e biomassa e gera resíduos orgânicos. “Nossa sociedade, economia e governo precisam entender a demanda para escolher se posicionar. Nações como Chile, Uruguai e Paraguai estão se colocando como futuros players, enquanto o Brasil ainda está em uma inércia”, ponderou.

Para mudar esse cenário, a SAE Brasil, inclusive, está participando do desenvolvimento de um estudo chamado Sectormapping Hidrogênio, em parceria com a AHK Rio, um mapeamento de todos os setores que podem ser beneficiados com a economia do hidrogênio.

O engenheiro Camilo Adas, presidente do Conselho da SAE Brasil, acrescentou ainda que o Brasil está acostumado a elaborar soluções continentais. Entretanto, a energia a hidrogênio pode ser produzida mais perto do local de consumo, diferentemente de uma usina hidrelétrica, por exemplo, construída à longa distância, que exige toda uma infraestrutura de distribuição. “A citação sobre o agronegócio é relevante porque grandes fazendas produtoras de etanol ou biomassa podem produzir e gerar o hidrogênio no mesmo lugar para consumo local, colaborando para uma cadeia energética descentralizada e conectada”.

Em concordância com a opinião dos participantes do webinar BW Talks, Silvano Pozzi Jr., diretor de Linha de Produto e Estratégia de Produto da Ballard Power Systems, arrematou: “Brasil, fontes renováveis, hidrogênio, transporte e descarbonização da sociedade têm tudo a ver. Se houver uma reforma interna da pirâmide energética do país e o envolvimento da empresas privadas e do governo, somado ao futuro da descarbonização, há um potencial enorme de investimento para o país. A questão é o tempo que vai levar e por onde ela irá começar”.

Mobilidade

Nesse sentido, o início pode ser justamente na área de mobilidade. “Esse vetor é muito notório porque há o deslocamento do automóvel de um ponto para outro e a interconectividade dos modais”, explicou Adas. Mas, a aposta é que o hidrogênio ganhe mais força, primeiramente, em veículos pesados, pelos benefícios vistos em parâmetros como peso versus potência e carga líquida alta, além da viabilidade econômica.

“Atualmente, vivemos o alvorecer da energia do hidrogênio e o que vai ocorrer é que os veículos pesados – caminhões, ônibus, trens, e embarcações - ganharão mercado mais rapidamente do que os automóveis, em especial, pelo fato de não necessitarem de uma infraestrutura de abastecimento distribuída por todo o território. “Um veículo pesado tem a oportunidade do abastecimento centralizado”, analisou Paulo Emílio Valadão de Miranda, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente da Associação Brasileira do Hidrogênio.

Na Coppe, na qual o professor é diretor do Laboratório de Hidrogênio, foi iniciado o desenvolvimento de uma embarcação catamarã. Dotada de propulsão elétrica, tem a bordo um sistema para geração de eletricidade a partir do etanol, pilha a combustível a hidrogênio e até painéis solares. Com capacidade para 100 pessoas, o veículo irá navegar em áreas abrigadas e deverá estar em demonstração na Baia da Guanabara em 2022.

Hidrogênio e mobilidade no mundo

Hoje, segundo informações publicadas existem 11.200 veículos movidos à célula a combustível e 381 postos de abastecimento de hidrogênio operando no mundo. Em 2030, serão mais de 10 milhões e 5.000 postos. O estudo “Scaling Up” do Hydrogen Council aponta que, em 2050, o hidrogênio representará 18% de toda a energia consumida mundialmente. Como resultado, haverá a redução anual de 6Gt de emissões de CO2, eliminando os principais poluentes do ar, reduzindo o nível de ruído nas cidades. A expectativa é gerar uma receita de US$ 2,5 trilhões por ano, empregando mais de 30 milhões de pessoas.

Quanto maior o porte do veículo, maior é a vantagem para os veículos à célula a combustível em autonomia (a mesma que o convencional), tempo de abastecimento (de três a cinco minutos) e custo. Portanto, atualmente muitas montadoras estão investindo no desenvolvimento de caminhões à célula a combustível. Monica acrescentou que já existem mais de 10 caminhões operando na Califórnia (EUA), e em até 2025 serão aproximadamente 1.600 em toda a Europa. São mais de 300 ônibus movidos à célula a combustível pelo mundo, e os primeiros trens estão sendo testados na Alemanha e na Holanda.

De acordo com Pozzi, a tecnologia está pronta para o automóvel de passeio, mas o preço e a escala são desafios. Mesmo assim, a Toyota irá inaugurar uma fábrica no Japão para produzir anualmente 30 mil Mirai Fuel Cell, carro movido à hidrogênio da marca. “A célula a combustível é muito atraente para a renovação da indústria, para se criar novos mercados e para desenvolver áreas onde já existem. O papel da transformação energética é uma responsabilidade de todos”, enfatizou.

Pavimentar o caminho

O professor Paulo Emílio lembrou que nos Estados Unidos pelo menos 30 mil empilhadeiras funcionam com a tecnologia de célula a combustível. “Esse tema é mais amplo do que se pode imaginar. No Japão, 300 mil residências usam geradores à célula a combustível para gerar energia elétrica e calor”, exemplificou.

Apesar de todos os avanços do hidrogênio no mundo, Adas ponderou que no Brasil é preciso pavimentar o caminho do hidrogênio. Isso pode ser iniciado através dos motores a combustão até chegar ao hidrogênio verde. “Um óleo vegetal hidrogenado que entra 1 para 1 nos pesados não impõe uma transformação em postos de combustíveis. Pode ser um início de uma rota estruturante até a consolidação dos veículos elétricos com célula a combustível”, detalhou. “Mas, é importante que essas informações venham a debate. As cartas para as rotas do hidrogênio já estão na mesa”.

Por fim, Monica salientou que o mundo caminha para ser cada vez mais sustentável. Assim, independentemente do porte do veículo, ele precisa ser emissão zero, porque se desloca de um local para outro. “Vai começar a ser inaceitável pela sociedade e pelo poder público, ter veículos rodando pelas cidades emitindo poluentes no ar, ampliando o aquecimento global, contaminando o ambiente”, reforçou. “Além disso, um veículo à célula a combustível a hidrogênio é o veículo mais flex que existe. Ele tem sistema de tração elétrico e gera a sua própria eletricidade através do hidrogênio, podendo ser produzido através de diversas fontes renováveis, como sol, vento, resíduos e biomassa”, complementou.

Economia circular

Somados a todos os benefícios citados pelos especialistas durante o Webinar BW Talks Transformação Energética – Hidrogênio, ainda há uma contribuição para a economia circular. Isso porque, conforme explica Lopes, o hidrogênio pode ser produzido por meio de um equipamento denominado eletrolisador, que utiliza eletricidade e água para produzi-lo. “A eletricidade quebra o componente da água em hidrogênio e oxigênio, e quando ela vem de fontes renováveis de energia, o hidrogênio produzido é chamado de hidrogênio verde”.

Desse modo, pela primeira vez, um combustível proporciona economia circular, já que o hidrogênio é produzido a partir da água pelo eletrolisador. Mas, posteriormente, usado em um sistema à célula a combustível, produz energia elétrica, calor e água com alta eficiência. “É um ciclo muito interessante”, definiu Miranda.

Ademais, o hidrogênio tem a capacidade de armazenar a energia a longo prazo para ser utilizada em outro momento. Quando se produz hidrogênio de forma integrada a uma fonte solar, hidro ou eólica, que são intermitentes, não há desperdício porque essa energia poderá ser distribuída para outros setores e regiões.

O webinar BW Talks foi aberto pelo engenheiro Afonso Mamede, presidente da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração). A moderação do evento virtual foi feita por Vagner Barbosa, responsável pelo marketing da BW 2020.

Para assistir a íntegra do webinar, basta acessar o YouTube.

Data publicação: 18 de junho de 2020

Canais: Transformação Energética Hidrogênio

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