O arquiteto e urbanista Marcelo Nudel, diretor geral na Ca2 Consultores Ambientais Associados, concedeu entrevista ao Blog da Liga sobre esse momento de pandemia. Isso porque ela acarretou uma série de medidas de isolamento e distanciamento social, incluindo a adoção do home office. Ele destacou também a importância do marketing de conteúdo para reforçar o relacionamento. De acordo com Nudel, a percepção de que o isolamento rápido seria necessário se deu quando as aulas de sua filha mais velha foram interrompidas. "Do dia 20 ao 24 de março corremos para nos prepararmos gradativamente para o home office total. Desse modo, nomeamos uma das sócias do escritório para implementar o sistema de trabalho remoto. O processo foi muito bem feito e de forma muito rápida. Como resultado, somos um escritório de 16 profissionais todos trabalhando à distância", contou. Logo após o home office, Nudel se voltou à questão financeira. "Já estava claro que viria uma crise pela frente e que seria necessário rever custos e metas para mantermos o fluxo de caixa saudável. Compreendi rapidamente que teríamos que focar na proteção do caixa. Então reduzir custos imediatamente foi necessário. Além de outras medidas de contenção, reduzi meu pró-labore em 50% pelos próximos 3 meses pelo menos".
Equipe engajada
Sobre as atividades essenciais, Nudel afirmou que os prazos estão sendo mantidos como de costume e a excelência técnica nas entregas se mantém. "Devemos isso integralmente à equipe, que está absolutamente engajada e motivada e à liderança inequívoca das minhas sócias, as arquitetas Raquel Sanches, Andrea Destefani e Larissa Luiz." Conforme comenta Nudel, a Office Manager, Cynthia Hammoud mantém, como de costume, um olhar clínico e muito eficiente para as finanças e administração geral da empresa. "Assim como eu, é obcecada em manter nosso caixa saudável. Os engenheiros João Druzian, Adriana Junqueira e Aline Chagas, a arquiteta Marcela Balieiro, e nossos estagiários Marcela, Sofia, Gabriel, Mari, Carol e Jéssica se mantém entrosados e se adaptaram muito bem ao trabalho remoto. Nesse momento, o foco também está no relacionamento. "A Tatiana Espíndola, nossa líder de Marketing, é a responsável pela nossa força nas redes sociais através de um trabalho irretocável ao longo do último ano. Sou um árduo defensor de um marketing forte na Ca2 e agora, mais do que nunca. Quem tentar vender alguma coisa agora vai se frustrar, pois os trabalhos vão rarear. O momento é de reforçar relacionamentos e estamos fazendo isso através do marketing de conteúdo". Por isso, a Ca2 intensificou a produção de vídeos no canal do Youtube. "Ademais, estamos bastante ativos em conteúdo técnico no Linkedin e Instagram (@ca2consultores) e iniciamos um plano de produção de e-books e lives que estava engavetado, pois estivemos com muito trabalho nos últimos dois anos. Esse investimento não tem retorno imediato, ou seja, não trará mais renda durante a crise, mas certamente depois, no longo prazo". Confira o restante da entrevista do curador do Núcleo Temático Construção Sustentável da BW 2020.
Quais são suas expectativas para o fim do período de isolamento? Há planos de reorganização imediata, ou será necessário um período de transição?
É claro que desejo que isso tudo acabe logo e que voltemos ao normal de antes, mas estou no momento evitando expectativas. Em situações que não podemos controlar (e nesse caso não temos nenhum precedente similar), criar expectativas é pedir para sofrer. Estou simplesmente me preocupando em dirigir a empresa dia a dia dentro da nova realidade. Acredito também que o processo de fim do isolamento será lento. O isolamento não irá acabar da noite para o dia e com base em um decreto. Ela acaba quando houver segurança para sairmos às ruas, e me parece que isso irá demorar e um longo período de transição será necessário. Isso afetará diretamente os negócios do setor, por isso acredito em uma recuperação lenta. Creio que se levarmos a pandemia a sério como sociedade, fizermos nossa parte ficando em casa e nos cuidando, o impacto na economia será menor no longo prazo. Mas se insistirmos em retomar a economia à força, antes da hora, e por razões que desafiam a ciência, a recuperação será mais lenta. Estou acompanhando lives e artigos de personalidades do mercado e a percepção geral é de um restante de 2020 muito difícil. Talvez com uma leve melhora no segundo semestre. Já percebo redução nos investimentos por parte de nossos clientes. Como resultado, as novas propostas começaram a rarear e alguns projetos já foram interrompidos. Alguns clientes também pediram extensão de prazos de pagamento. Como temos reservas em caixa, resultado de um excelente 2019, conseguimos suportar alguns atrasos. Com algumas exceções, muitos de nossos clientes estão bastante cautelosos, aguardando os acontecimentos dos próximos meses para definir um rumo.
De alguma forma, sua empresa carregará uma mudança permanente após esse período? Qual, e por quê?
Virou clichê dizer que após a pandemia as empresas irão adotar o modelo home office com mais frequência. Concordo. O home office já era realidade em muitas empresas, e deve ser amplificado a partir de agora. Mas não é essa a mudança que vejo para a Ca2. A Ca2 não tem o trabalho remoto como prática de costume. Não porque não acreditamos nesse modelo, mas porque gostamos do ambiente do escritório, gostamos de estar juntos. Montamos no início de 2019 um escritório bem legal, maior, com plantas, muita luz natural, com a nossa cara e bem ao lado da estação Faria Lima do Metrô. O ambiente é ótimo para o trabalho colaborativo e nos sentimos muito bem lá. E gostamos também da interação, da troca de informações rápida, da mentoria presencial dos mais experientes com os mais novos. Então sentimos muita falta disso. Reconheço as inúmeras vantagens do home office, mas dentro do nosso contexto, o trabalho presencial é uma prática que queremos manter. Acho até que iremos valorizar mais o trabalho presencial. Uma mudança que eu gostaria de influenciar junto a meus clientes diz respeito à necessidade de reuniões presenciais. Muitos concordarão que certas reuniões podem passar a ser virtuais. Principalmente aquelas reuniões multidisciplinares escalonadas nas quais cada profissional mais escuta do que fala. Isso otimizaria muito o tempo de todos e tornaria as reuniões muito mais objetivas. Gostaria muito de ver isso acontecendo.
Qual o principal aprendizado que você consegue retirar da situação global? Você mudaria a abordagem inicial sabendo agora das proporções do surto?
Talvez eu seja otimista nessa minha colocação, mas acredito que a humanidade irá constatar que não é invencível e que não tem controle ou tecnologia que a proteja de tudo. Se esse pensamento for aplicado ao tema do aquecimento global e da depredação de recursos naturais, talvez possamos começar a agir de forma mais eficaz e urgente para reverter os impactos ambientais que a ação humana vem causando ao planeta antes de se tornarem irreversíveis (se é que já não se tornaram). Assim como um vírus está sendo capaz de derreter a economia mundial, as mudanças climáticas também serão, mas de forma ainda mais devastadora, duradoura e irreversível. Sou otimista nesse sentido, creio que aprenderemos muito com essa crise e que a sustentabilidade voltará ao palco principal das discussões e ações em nível global. Refletindo também sobre aprendizados em uma escala menor, mais especificamente em relação à gestão de uma empresa, estou aprendendo muito com essa crise. Dirigir uma empresa como a Ca2, com o alcance de mercado e escala dos projetos que temos hoje, à distância em meio à essa pandemia não é fácil. Por isso, faço questão de atribuir a condução da empresa nesse momento a postura da equipe. Essa crise só comprova a importância que tem o senso de autonomia e confiança que se deposita em uma equipe. Apenas as empresas com essa característica (além obviamente de ter um caixa saudável) sairão vivas dessa crise. Matéria publicada originalmente no Blog da Liga Republicada pela Ca2 Consultores Ambientais Associados
Data publicação: 28 de setembro de 2020
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