Um artigo publicado no jornal Matter, da Cell Press, mostra que a química dos mexilhões pode contribuir com o tratamento de água. Esses tipos de moluscos são passageiros clandestinos notórios, conhecidos por viajar nos cascos dos navios e causar danos a eles. Por outro lado, esta propriedade adesiva pode ser muito útil em diversas aplicações de engenharia. A publicação dos cientistas chineses e americanos sugere que a química encontrada nos bissos, que são filamentos semelhantes a seda usados para fixação, estão inspirando inovações na área da engenharia. O objetivo é resolver diversos problemas, como a limpeza de águas contaminadas e que sofreram derramamentos de óleo. Estes organismos são capazes de se manter fixos mesmo sob incidência de fortes ondas e correntes. Isso se dá pela sua adesão às rochas através dos bissos. A forte adesão está relacionada a um grupo de aminoácidos chamados de dihidroxifenilalanina (DOPA). Eles “agarram-se” às superfícies, realizando uma série de interações moleculares, como pontes de hidrogênio e interações hidrofóbicas e eletrostáticas. Os pesquisadores descobriram que os DOPAs podem se aderir a diversos tipos de superfícies através destas interações. Assim como a dopamina, uma molécula com estrutura similar. Nesse sentido, estudos sugerindo esta capacidade por parte da dopamina desencadearam o crescimento da chamada “química inspirada em mexilhões”, com implicações tanto para a engenharia de matérias quanto para ciências ambientais. Segundo Hao-Cheng Yang, coautor da publicação e pesquisador na Escola de Engenharia Química e Tecnologia da Universidade Sun Yat-sem (China), “os mexilhões são amplamente considerados como empecilhos para indústrias, uma vez que colonizam superfícies submersas. Por outro lado, a fixação robusta destes organismos no substrato inspirou a estratégia biomimética (ou seja, que imita a encontrada na natureza) para realizar a adesão de materiais embaixo d’água.”
Demais pesquisas
Outras pesquisas vêm desenvolvendo materiais superiores para separação de água e óleo. Isso pode ajudar a mitigar os danos causados aos ambientes marinhos em eventos de derramamento de óleo. Diferentemente de materiais desenvolvidos anteriormente, os pesquisadores acreditam que os inspirados no mexilhão sejam adequados para produção em larga escala. Outro exemplo inspirado nestes moluscos está relacionado com a área de tratamento de água. Desse modo, tecnologias de purificação inovadoras para remoção de metais pesados, poluentes orgânicos e patógenos de efluentes estão sendo desenvolvidas, baseados no uso de dopamina polimerizada, que é capaz de se ligar a estes contaminantes. Apesar das propriedades adesivas encontradas nos mexilhões terem inspirado uma variedade de pesquisas, alguns desafios precisam ser superados. Os cientistas ainda estudam a relação entre as estruturas e propriedades apresentadas pelas moléculas. Eles também estudam a complexa teia de interações entre aminoácidos que influencia nas propriedades adesivas. “Apesar da simplicidade e efetividade, ainda há algumas limitações inerentes,” afirma Yang. “Normalmente, condições alcalinas são necessárias para realizar a polimerização da dopamina, desta forma ela não pode ser aplicada a materiais que sejam instáveis em condições de alcalinidade. Além disso, o processo é demorado, e leva dezenas de horas para formar uma cobertura uniforme sobre a maioria dos materiais.” Alguns pesquisadores esperam superar estes desafios encontrando substitutos seguros, de baixo custo e estáveis para a dopamina, como por exemplo polifenóis. Por Ana Luiza Fávaro Referências: Tradução livre de “Mussels are inspiring new technology that could help purify water and clean up oil spills”. Foto: Pixabay
Data publicação: 17 de março de 2020
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